Congresso de Florença -Resumo do que foi exposto na
sessão do dia 17 de Abril de 2005.
Tradução de Jeová Benati
Na expectativa dos resultados da Convenção realizada em Florença do dia 15 a 17 de Abril de 2005 oferecemos um breve resumo de tudo quanto os professores Calabró (Florença),Catassi (Ancona) ,Troncone (Nápoles ) e Volta (Bolonha) relataram na sessão matinal de Domingo 17 de Abril aos numerosos sócios presentes sobre algumas das mais importantes novidades obtidas no decorrer das duas jornadas precedentes.
Os trabalhos foram iniciados com uma relação das pesquisas feita sobre o trigo e o glúten.Apreendeu-se que como o grão tenha um genoma muito amplo composto de cerca 150.000 genes e de como seria possível construir grãos com pouco ou mesmo sem gliadina mas que infelizmente não são úteis para produzir macarrão pois carecem do elemento fundamental para dar elasticidade e viscosidade .
Analogamente se aprendeu que as transglutaminases são um conjunto de enzimas na parte intra e extracelular com funções diferentes mas muitos importantes nos processos de auto imunização e regularização da morte celular cuja a inibição poderá trazer conseqüências negativas . Algumas intervenções trataram da patogenia da doença celíaca e seu complexo caráter genético que faz que todo celíaco seja diferente do outro e responda de maneira distinta às quantidades diferentes aos diversos peptídeos do glúten sobretudo , mas não somente , por meio da célula T , sugerindo não ser tão fácil e simples construir terapia para todos indistintamente.
Em seguida iniciou-se o debate da terapia e uso da dieta sem glúten e das dificuldades inerentes à adesão à mesma e da possibilidade, ainda que rara , das complicações da forma refratária e de seu tratamento difícil
Embora estivesse temporariamente distante destas relações trouxemos para o centro dos debates os resultados do simpósio que relacionou a presença de anticorpos de antiactina na maior parte dos diagnósticos . Sabemos que a positividade dos anticorpos antiendomisio e antitransglutaminase permitem uma individualização de 90% a 95% dos casos de doença celíaca com uma especificidade que supera os 95%. Todavia nenhum teste sorológico apresenta uma sensibilidade absoluta e a biopsia intestinal permanece até hoje como instrumento indispensável para o diagnostico. Este anticorpo foi apontado com o novo causador de danos intestinais . A antiactina é de fato, uma das proteínas estruturais da parede intestinal . Sendo assim quanto maior for o dano da mucosa e a atrofia intestinal quanto maior será a positividade do soro dos anticorpos antiactina . O seu emprego poderá ser útil no“follow-up” da doença celíaca já tratada.
O congresso prosseguiu com uma animada mesa redonda relacionada com a quantidade de glúten presentes na alimentação e a eficácia dos diversos métodos para analisar quantitativamente a sua presença. Em seguida concluiu-se a parte inicial do evento com a leitura de mecanismos à base de respostas auto-imune e colocando premissas para compreensão de leituras sucessivas relacionadas com as pesquisas mais recentes que objetivam oferecer aos celíacos uma terapia alternativa à dieta sem glúten o que suscitou o agudo interesse dos celíacos presentes.
A sessão de título “neutralização da toxicidade da gliadina” explorou a possibilidade de tornar o glúten não tóxico através de enzimas produzidas por algumas bactérias que estão em condições de separar aqueles peptídeos que normalmente no intestino não são digeridos pelo suco gástrico e pancreático . Tais enzimas acrescidas do fermento introduzido na preparação dos alimentos e introduzidos na dieta não estarão em condições de estimular a célula T e por via de conseqüências a reação inflamatória. Na tentativa de impedir a chegada de antígeno à célula T ,um grupo de pesquisadores ítalo-americano está tentando contrastar com anticorpos a ação particular de uma proteína , a zonulina ,que possui a capacidade de abrir caminhos aos peptídeos tóxicos ,distanciando as células intestinais umas das outras ,uma linha de pesquisa que se ocupa de construir um conjunto de peptídeos semelhantes aos peptídeos tóxicos que podem substituir estes últimos enganando as células inumes e impedindo a sua estimulação quando entram em contato com o glúten .
A sessão “terapias biológicas” teve inicio com a atenção voltada para uma molécula em particular a interleucina 15 produzida em grande quantidade pela mucosa dos celíacos e que em contato com a gliadina parece ser responsável pela infiltração dos linfócitos da mucosa e pela produção de substancias que danificam as células intestinais podendo leva-las à morte . Essas substancias são as principais responsáveis pelas complicações da doença celíaca , o linfoma. O bloqueio de sua ação através de um anticorpo poderá tornar uma terapia útil para os celíacos que resistem em aceitar uma dieta sem glúten . Uma outra substancia fundamental na imunidade é a interleucina 10 que desenvolve ação antiinflamatória e poderá ser utilizada de maneira terapêutica para induzir tolerância , uma vez que sua produção a nível intestinal é muito grande.
Também a sessão “ Modelos animais de doença celíaca “despertou grande interesse dos participantes . No atual momento não dispomos de animais que apresente alterações intestinais que caracterize doença celíaca e nem tão pouco a produção de anticorpos antitransglutaminase . Porém foram criados ratos transgenicos ,isto é ,geneticamente modificados que apresentam as moléculas de HLA DQ2 e DQ8 que podem apresentar a gliadina na célula T , responsável pelo dano da mucosa mas que todavia não é suficiente para causar a doença celíaca ( de resto sabemos que também no seres humanos a simples presença do DQ2 e DQ8 é necessária porém não suficiente para o desenvolvimento da moléstia) .
Muito interesse suscitou entre os participantes os estudos realizados que utilizam ratos NOD (diabéticos não obesos) : além de estar freqüentemente associado à doença celíaca ,o diabetes é caracterizado por uma resposta imune intestinal adulterada que parece sensível a fatores dietéticos . O grupo napolitano apresentou interessantes relatos acerca dos ratos NOD . De fato , a dieta desprovida de glúten parece protege-los do desenvolvimento do diabete enquanto a introdução do glúten na dieta dos mesmos causa inflamação intestinal e uma produção local de anticorpos antitransglutaminase . Existem alguns tipos de ratos oriundos de cruzamentos entre ratos DQ8 positivos e NOD que imunizados em relação á gliadina estão em condições de desenvolver lesões cutâneas semelhantes que aparecem nos humanos nos casos de dermatite e que desaparecem se os ratos forem submetidos a uma dieta desprovida de glúten . Embora não sendo um modelo perfeito este animais poderão no futuro fornecer sugestões muito úteis para uma melhor compreensão dos aspectos patogênicos da doença celíaca e para poder testar terapias alternativas.
O congresso de Florença serviu para que os celíacos pudessem compreender e não somente eles, que a doença celíaca já não é mais uma doença rara e negligenciada mas que em torno dela estão se movendo grupo de pesquisadores do mais alto nível fortemente motivados . Muitas novas possíveis terapias estão surgindo ,se não são completamente substitutiva da dieta desprovida de glúten poderão seguramente melhorar a qualidade de vida dos celíacos ; Estão em pauta terapia enzimática via oral aos inibidores das transglutaminses ou bloqueio da presença antigênica ou a neutralização das células T ou anticorpos anticitocinas . As pesquisas prosseguem buscando o caminho melhor para tornar mais simples a terapia e não trazer efeitos colaterais pesados aos nossos pacientes.
Doutora Maria Tereza Bardella
Gastroenterologista da Universidade de Milão
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