Alergias: as intolerâncias
As alergias e intolerâncias alimentares produzem sintomas semelhantes, mas envolvem mecanismos diferentes.
As intolerâncias alimentares são causadas pelo sistema imunológico, que reage de maneira anormal a um determinado alimento ingerido. Determinar que um alimento faz bem a todos é um grande erro. O que faz bem a uns pode causar sérios problemas a outros.
Todos sabemos que os alimentos são indispensáveis à vida, pois fornecem-nos as substâncias necessárias para o nosso desenvolvimento e para a manutenção da nossa vida diária. No entanto, estes só podem ser utilizados pelo organismo após a sua digestão e absorção.
Há, contudo, alguns indivíduos que não suportam determinados alimentos e quando isso acontece diz-se então que existe uma intolerância alimentar a um certo alimento, que pode ser ao peixe, ao marisco, ao leite, ao glúten. No caso do glúten, pode-se também chamar de doença celíaca.
O glúten é a principal proteína presente no trigo, centeio, cevada e aveia, cereais amplamente utilizados na composição de alimentos.
«Existe intolerância alimentar quando determinadas pessoas consomem produtos que contêm glúten e, após esta substância ter entrado em contacto com a mucosa intestinal, vai desencadear uma reacção.
Em primeiro lugar dirigida contra as próprias células intestinais, mas que pode ser também contra outros órgãos, e leva a que haja uma alteração da função do intestino, um atrofiamento das células de absorção», afirma o Dr. Gonçalo Cordeiro Ferreira, pediatra no Hospital de Amadora-Sintra.
A predisposição genética é a principal causa apontada para a existência desta intolerância e para o desenvolvimento da patologia.
É uma doença que se pode manifestar em qualquer idade, desde que o glúten já tenha sido incluído na sua alimentação, embora, na maioria dos casos, surja durante os primeiros anos de vida de uma pessoa.
Habitualmente, os primeiros sintomas surgem no segundo ou terceiro semestre de vida, entre os 6 e os 20 meses de idade, algum tempo depois da introdução das farinhas, do trigo, pão ou bolachas na alimentação.
«A criança começa a perder o apetite, torna-se irritável e triste, deixa de aumentar de peso, há o aparecimento de uma diarreia e a barriga torna-se mais saliente e distendida», descreve Gonçalo Cordeiro Ferreira.
Se o diagnóstico não for feito nesta fase e a dieta específica não for iniciada, a situação pode-se agravar e a criança pode atingir estados de malnutrição muito grave.
Num pequeno número de casos, a doença pode manifestar-se de forma diferente. Às vezes aparecem vómitos de repetição, dores abdominais de intensidade variável, obstipação ou, apenas, um simples atraso no crescimento, sem razão aparente. Situações que só um especialista associa à doença celíaca e que podem levar algum tempo a serem diagnosticadas.
Um diagnóstico correcto
Para se chegar ao diagnóstico da doença celíaca são realizados exames especializados que analisam se o intestino está absorvendo adequadamente os alimentos.
«É feita uma pesquisa de anticorpos “marcadores“ da doença celíaca, o antigliadina, o antiendomísio e o antitransglutaminase tissular, o qual provavelmente está na base dos mecanismos patológicos da doença.
Estes anticorpos prestam-se, além de marcadores diagnósticos, à investigação de familiares e indivíduos de risco, e como marcadores da transgressão dietética, pois estão associados à persistência de actividade da doença», refere o nosso entrevistado, acrescentando ainda que, «se os anticorpos forem positivos, deve-se fazer uma biopsia intestinal.
É absolutamente necessário e indispensável fazer este exame para se alcançar o diagnóstico correcto».
Uma vez feito o diagnóstico, o paciente deve eliminar da sua alimentação qualquer alimento que contenha glúten.
A dieta sem glúten é a base do tratamento, embora na criança haja, durante o seu crescimento, pequenas alterações.
«Na criança, a dieta é feita, inicialmente, durante dois anos, depois há uma provocação, ou seja introduz-se novamente o glúten na dieta e espera-se que a criança tenha uma recaída, quer nas análises, quer pelo reaparecimento de sintomas.
Entre a dieta e a provocação repete-se a biopsia, para ver se está tudo dentro dos parâmetros normais e, depois da provocação, faz-se uma terceira biopsia, que deve revelar alterações intestinais e aí faz-se o diagnóstico definitivo da doença», esclarece Gonçalo Cordeiro Ferreira.
Em muitos casos, à medida que o tempo passa, os sintomas relacionados com as falhas na dieta vão-se tornando cada vez mais discretos e às vezes quase que desaparecem.
Mas isto não quer dizer que o doente esteja curado, como erradamente algumas pessoas pensam, podendo apresentar disfunções de outros órgãos extradigestivos, como anemia, infertilidade, abortos frequentes, alterações do fígado, das articulações, diabetes ou problemas dermatológicos.
A intolerância ao glúten é para a vida inteira, mas, apesar das muitas limitações, o doente celíaco consegue levar uma vida inteiramente normal.
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